Se o gerente de seu banco aproveitou uma visita sua à agência para sugerir um título de capitalização ou uma propaganda na TV o deixou tentando, é bom saber que os títulos de capitalização são bons para as instituições financeiras, mas péssima alternativa para o cliente, dizem especialistas de mercado. “Dá alta margem para quem oferece o produto, os bancos. Mas para quem se destina, o cliente, só faz sentido se a pessoa tem o hábito de jogar na loteria”, afirma o consultor financeiro Valter Police Junior, sócio fundador da Fiduc, rede de associados planejadores financeiros.
Até a associação do setor diz que os títulos de capitalização não devem ser vendidos como investimentos, mas há bancos que fazem isso, e estão sendo contestados. É o caso do Santander, que lançou campanha publicitária prometendo ganhos com os títulos. Os anúncios estão sendo questionados no Conselho Nacional de Autorregulação Publicitária (Conar).
É para perder dinheiro
Os profissionais de mercado afirmam que o título de capitalização rende menos até do que a poupança, que já perdeu muito da rentabilidade com a queda de juros no país. Na verdade, o brasileiro que colocar uma parte de sua economia nesse produto vai estar perdendo dinheiro, porque na prática não repõe nem a inflação. Quem aplica R$ 1.000 pode receber R$ R$ 965 no ano seguinte.
De forma geral, o título de capitalização paga o equivalente à TR (Taxa Referencial). Em alguns casos, há acréscimo de uma taxa de juros, mas o ganho sempre é inferior à poupança. Mas como a taxa básica de juros (Selic), está muito baixa (5,5% ao ano), o rendimento da TR tem sido zero. Ou seja, se o rendimento do título for apenas a TR, o título vai devolver o mesmo que você investiu.
Mas o valor real desse produto vai diminuir no resgate. Isso porque existe a inflação. Assim, se o custo de vida subir 3,5% em um ano, por exemplo, o poder de compra de R$ 1.000 aplicados, por exemplo, vai se transformar em R$ 965,00 em termos reais.
Na prática, o cliente perderá dinheiro, uma vez que não haverá nem sequer a reposição da inflação. “O que a pessoa deveria avaliar é o que o dinheiro que ficou parado deveria evoluir ao longo do tempo. Se ela tirar o mesmo dinheiro depois de um ano parado, ela perdeu dinheiro”, afirma o consultor da Fiduc. O dinheiro poderia estar investido em qualquer outra aplicação, como Tesouro Direto e CDB, e render mais.
Própria federação do setor diz que não é investimento
O próprio diretor-executivo da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), que representa o setor, Carlos Alberto Corrêa, declara que o título de capitalização não deve ser vendido pelos bancos como alternativa de investimento.
“A gente entende que o título de capitalização funciona como uma ferramenta de educação financeira. O cliente troca a rentabilidade por uma chance de receber um prêmio para realizar um sonho de consumo”, disse.
Segundo a Fenabrave, antes de adquirir um título, o consumidor deve sempre definir claramente qual o seu objetivo e se informar sobre seus direitos e deveres.
Campanha do Santander é questionada no Conar
Essa orientação parece não estar sendo clara para alguns agentes de mercado. O banco Santander, por exemplo, está sendo questionado pelo Conar por causa de uma campanha, chamada “Você milionário ou seu dinheiro de volta”.
O banco promete ganhos com títulos de capitalização, Os reclamantes questionam essa promessa no anúncio.
Procurado, o Santander disse que não se pronuncia sobre o assunto.
O que é o título de capitalização
O título de capitalização é um título de crédito, ou seja, um produto no qual você aplica determinado valor, com pagamentos mensais ou em uma parcela única, na contratação do título. Ele é regulado pela Susep (Superintendência de Seguros Privados).
Esses títulos só podem ser emitidos por empresas de capitalização, caso de grandes bancos que possuem empresas desse tipo vinculadas a eles.
O produto tem um prazo de vencimento definido, a partir de 12 meses. Aqui aparece o primeiro problema: o cliente somente pode sacar no vencimento para receber o dinheiro aplicado de volta.
Se decidir sacar antes da hora, a empresa de capitalização irá reter parte ou a totalidade do dinheiro. O percentual de retenção diminui gradualmente conforme se aproxima a data de vencimento do título.
Cai procura por capitalização
Para especialistas do mercado, o apelo cada vez mais fraco desse produto já afeta a demanda do setor, que atravessa uma estagnação. Segundo dados da Federação Nacional de Capitalização (FenaCap), que representa o setor, a receita anual gerada por esses produtos caiu de R$ 21,9 bilhões, em 2014, para R$ 21 bilhões, em 2018.
No mesmo período, por exemplo, o patrimônio da caderneta de poupança aumentou 20% e atingiu R$ 797 bilhões.
Fonte: João José Oliveira do UOL, em São Paulo