O choque da pandemia do coronavírus nos mercados causou quedas fenomenais nas bolsas de valores do Brasil e do mundo e, mesmo com uma recuperação robusta depois, deixa ainda um rastro de dúvidas e incertezas.
Ainda assim, bancos, corretoras e gestoras estão reforçando – e mesmo ampliando – as apostas em renda variável dentro das recomendações aos clientes de como distribuir os investimentos no pós-pandemia.
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Pesa para isso o fato de que, também efeito da crise, os juros caíram a patamares ainda mais baixos e ceifaram ainda mais os ganhos da renda fixa, que já estavam espremidos.
Essa necessidade de seguir procurando rentabilidades maiores é aliada ao entendimento de que a carteira que forma o patrimônio da pessoa deve ser pensada em um horizonte longo, e não nos ganhos de curto prazo.
“A renda variável não ficou mais incerta, ela sempre foi incerta”, diz a executiva de investimentos do Santander, Luciane Effting. “Ela pode não ter um crescimento tão rápido quanto o que era esperado antes da crise, mas a perspectiva de longo prazo ainda é promissora e a pauta de que o investidor deve olhar para ela se mantém.”
O CNN Business conversou com quatro casas de investimentos para ver como estão as recomendações mais recentes delas de onde investir, já ajustadas aos diferentes perfis de risco – conservador, moderado, agressivo.
A XP Investimentos, por exemplo, já reduziu de 27%, em fevereiro, para 20%, agora, a porção de renda fixa recomendada para os investidores arrojados, aqueles mais dispostos a lidar com oscilações ao longo do tempo em troca da possibilidade de ganhos maiores.
Além da XP e do Santander também foram consultadas a gestora digital Magnetis e a gestora de investimentos e finanças pessoais Fiduc.
Na média, as recomendações de alocação delas em renda variável variam de um mínimo de 3%, para o portfólio do investidor mais conservador, a quase 28%, para o mais arriscado. Além de ações e fundos de ações, a renda variável pode incluir também um pedaço de fundos imobiliários.
Fundos multimercados, que já vinham ganhando holofote nos últimos anos com a queda dos juros, também continuam com um espaço grande garantido. São fundos que podem mesclar de tudo, de títulos públicos a ações e moedas, e são vistos como um bom meio do caminho entre a renda fixa e a bolsa de valores.
Investimentos no exterior também ganham espaço – o pequeno investidor consegue ter alguma coisa de ativos de outros países por meio de fundos, de ETFs e, a partir de setembro, também de BDRs.
“O importante é diversificar”, disse o diretor de planejamento financeiro da Fiduc, Valter Police. “Todos os perfis devem ter alguma coisa de renda variável, mesmo o mais conservador, assim como o mais arrojado também continuará tendo renda fixa.”
Veja a seguir as recomendações de onde investir de cada uma das instituições consultadas para os seus clientes em agosto.
A classificação dos perfis de risco muda um pouco de uma casa para a outra, mas a ideia geral, de gradação da exposição a investimentos mais voláteis de acordo com a maior ou menor tolerância a eles, é a mesma.
Fiduc: Mais crédito privado
Em linhas gerais, a gestora, que administra o patrimônio de grandes e pequenos investidores, mantém as mesmas proporções de cada classe de ativo para os clientes. “Não vamos aumentar ou reduzir a renda variável para aquele perfil, a ideia é que a participação da renda variável prevista já tem que ser adequado ao quanto ele aceita de volatilidade”, disse.
Uma mudança está no balanceamento dentro da renda fixa: os título públicos perderam um pouco de espaço para os títulos de crédito privado, que podem ser os de bancos (CDBs, LCAs e LCIs, por exemplo) ou de empresas, como debêntures.
“É uma maneira de o investidor conseguir juros um pouco maiores do que os pagos pelos títulos públicos”, disse Police. “Mas vale lembrar que o crédito privado [debêntures] tem bastante risco envolvido e é importante o investidor contar com apoio de especialistas na escolha.”
Para a parte de caixa – a renda fixa de liquidez – a principal recomendação da casa são os tradicionais títulos do Tesouro Selic, que ainda entregam um pouquinho mais do que a poupança e permitem o resgate a qualquer momento sem perdas.
Magnetis: Proteção da renda fixa
Nos últimos meses, as carteiras da Magnetis ganharam um pedacinho de proteção. Para os investidores experientes ou com suporte de profissionais, isso é feito por meio de opções, um tipo de aplicação sofisticada que permite ganhar com a queda dos ativos, mas que também envolve riscos altos de perdas.
Os investidores “solo”, de acordo com o especialista de investimentos da gestora, Lucas Taxweiler, podem ter um efeito parecido com essa proteção ampliando um pouco o pedaço da renda fixa no bolo total.
“A renda fixa já tem um papel natural de proteção de carteira, ela minimiza as perdas”, disse Taxweiler. Quer dizer, se a parte que está em bolsa encolhe em algum momento, a parte da renda fixa, que não flutua, segura o restante da carteira.
Santander: Ações sempre em observação
“Mantivemos as mesmas recomendações em termos de percentuais”, disse Luciane Effting. “O que muda são as recomendações dos produtos dentro das classes de ativos, como as indicações de quais ações investir dentro de renda variável, por exemplo.”
Boa parte dos bancos e corretoras elaboram carteiras mensais de ações, que servem de referência para os clientes acompanharem as mudanças do mercado e tomares suas decisões.
Ações e fundos imobiliários compõem as recomendações do Santander para a parcela de renda variável.
Na renda fixa, o crédito privado, como debêntures, CRA e CRI, ganhou mais espaço (são eles a principal aposta da parcela da renda fixa indexada à inflação da carteira). O investidor também pode acessar esse tipo de ativos por meio de fundos especializados em crédito privado.
A parcela da reserva de emergência e caixa fica na conta da renda fixa que acompanha o CDI, como os fundos DI de liquidez diária.
XP: Cautela na bolsa
A corretora, que revisa mensalmente as recomendações a seus clientes, vem gradativamente reduzindo a parcela recomendada de renda fixa para seus clientes desde o início do ano. Do outro lado, foram as recomendações de investimentos no exterior as que mais cresceram.
A exceção é o perfil mais conversador, para quem a indicação segue sendo de 100% em renda fixa – a diferença é que, agora, para quem pode, a recomendação é que 5% disso seja em fundos uqe investem em títulos de renda fixa de outros países.
De toda maneira, a renda variável já começa a ganhar um pequena pressionada no freio por ora. “Os dados econômicos continuam apontando para uma recuperação da economia global, que deve se estender pelo menos pelos próximos 12 meses”, escreveu a companhia em sua carta mais recente de recomendações.
“Apesar disso, as dificuldades para os investidores aumentaram, dado que os preços dos ativos não estão mais tão atraentes quanto há 2 meses.”