Fintech quer popularizar a administração de patrimônio no Brasil

26 de março de 2018 | Imprensa

Imagem - Fiduc

A carreira do empresário Pedro Guimarães é eclética. Aos seus 46 anos, o carioca já trabalhou numa fazenda de palmito no Amapá, chegou à presidência da Conspiração Filmes, onde produziu longas como 2 Filhos de Francisco, e mergulhou no mercado financeiro, depois de dar sua primeira tacada no empreendedorismo ao lado de Paulo Veras, com o site Imperdível, de compras coletivas. O negócio não foi para frente. Paulo partiu para fundar o aplicativo de transportes 99 e Pedro começou a trabalhar na Alocc, uma empresa de gestão patrimonial. Foi lá que o comichão de empreender voltou a bater à porta e deu origem à fintech Fiduc, lançada em agosto do ano passado.

 

A empresa faz parte de um grupo de startups que tenta popularizar o planejamento financeiro e a gestão de patrimônio no país. É o caso também da Guide Life, Gfai e LifeFP. Sua atuação lembra muito a de um family office. Nunca ouviu falar no termo? Você não está sozinho. Eles são pouco conhecidos no Brasil, um luxo reservado apenas a quem tem ao menos alguns milhões na conta bancária. Os family offices, apesar da pompa, nada mais são do que gestores de patrimônio para quem tem muito dinheiro. Da mesma forma como os shoppings de investimento tomaram há alguns anos o monopólio dos grandes bancos no oferecimento de produtos financeiros e democratizaram o acesso a fundos de investimento, empresas como a Fiduc chegam agora para baratear o serviço de administração de patrimônio e oferecer um olhar de longo prazo sobre a vida financeira dos clientes.

A inspiração para o negócio surgiu quando Guimarães ficou sabendo da existência da St. James’s Place, uma empresa britânica que conseguiu amealhar bilhões oferecendo planejamento financeiro. Criada em 1991, ela administra hoje um patrimônio de R$ 425  bilhões (90,7 bilhões de libras) e conta com 3,7 mil associados. É com esse crescimento exponencial que o executivo sonha. Para tirar a ideia do papel, Guimarães e mais três sócios investiram R$ 5,3 milhões na Fiduc.

Como o negócio funciona na prática? O cliente entra em contato com um dos associados da Fiduc. Esse profissional será responsável por fazer o planejamento financeiro dele. As necessidades podem ser das mais diversas: plano de ação para comprar um apartamento ou se preparar para a aposentadoria, dúvidas sobre divisão de bens em um divórcio e questionamentos sobre onde investir, entre outros. Atualmente, a Fiduc oferece os serviços de análise tributária e jurídica para contratos cíveis, além da gestão de ativos. Em breve, pretende trabalhar também com assessoria de seguros.

A ideia é que o associado acompanhe o cliente ao longo de sua vida, cuidando de todos os aspectos financeiros dela, e o ajude a alcançar seus objetivos e aumentar seu patrimônio. O associado irá indicar, de acordo com cada perfil, um ou mais fundos de investimento da Fiduc, para o cliente colocar seu dinheiro. A empresa aceita clientes que possuam ao menos R$ 5 mil, mas recomenda que eles tenham um  patrimônio mínimo de R$ 100 mil. Não é possível ter acesso aos serviços da startup sem fazer aplicações com ela. No entanto, os clientes são livres para investirem em outras instituições também.

Atualmente, a Fiduc oferece quatro tipos de fundo: renda fixa, multimercado, ações e offshore. Todos são fundos de cotas, os famosos FICs. Ou seja, eles são compostos por cotas de fundos de outras gestoras. Quem escolhe em quais fundos apostar é o Comitê Executivo da Fiduc, composto por executivos do mercado contratados para tomar essa decisão.

Na contramão do que é comum no Brasil nesse setor, a remuneração da Fiduc não vem de comissões recebidas pelas vendas de produtos financeiros. Ela adota o modelo fiduciário. Seus clientes pagam pelos serviços por meio de uma taxa de administração. Atualmente, ela corresponde a 1,5% do patrimônio administrado. Portanto, quanto mais dinheiro o cliente ganhar, mais a Fiduc embolsa.

A diferença entre esses dois modelos, para Guimarães, é o grande trunfo de sua empresa. “O interesse dos associados e dos clientes está alinhado”, diz. Não é o que acontece, por exemplo, quando um gerente de banco oferece um produto para bater suas metas, sem considerar se ele realmente é adequado às necessidades do consumidor. Entretanto, também persiste no modelo fiduciário algum conflito de interesses. Isso ocorre porque é vantajoso para a Fiduc que o consumidor deixe o maior volume de recursos possível dentro dos fundos da casa, já que a remuneração recebida é calculada sobre o patrimônio lá investido.

Associados

Para se tornar um associado Fiduc, é preciso virar sócio da empresa. O custo é de R$ 25, referente à compra das cotas da empresa. Os associados são remunerados por 0,5% dos dividendos recebidos pela empresa, sendo a distribuição proporcional ao patrimônio que administram. Antes de começar a trabalhar, os futuros sócios passam por um curso de uma semana, onde são ensinados conceitos de planejamento financeiro, vendas e até liderança. Após o treinamento, os associados contam com mentoria online da Fiduc.

“Para atuar como associados, procuramos planejadores financeiros, ex-bancários e agentes autônomos”, afirma Guimarães. Com a leva de desligamentos e planos de demissão voluntária (PDVs) em curso no Brasil (Caixa e Bradesco se desfizeram de milhares de funcionários ao longo de 2017), a dificuldade de recrutamento não deverá ser grande. “Os ventos estão soprando a favor do nosso negócio. O que mais importa para sucesso de uma startup é o timing.”

Com cinco turmas de associados formadas, a Fiduc conta hoje com 65 profissionais em 12 cidades que agora saem em busca dos primeiros clientes da empresa. Foi dada a largada.

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