Como ficam suas finanças com o PIB acima do esperado?

1 de junho de 2023

Imagem - Fiduc

O crescimento da atividade econômica brasileira, medida pelo Produto Interno Bruto (PIB), no primeiro trimestre, acima do esperado, traz uma sinalização positiva para a saúde financeira do país, mas não totalmente consolidada. Segundo economistas e especialistas em investimentos, o cenário ainda é de cautela na alocação de recursos em ativos de maior risco, como ações, bem como na possível maior oferta de crédito, que pode ser uma armadilha para o endividamento das famílias.

“Esse resultado mais positivo está alicerçado em um crescimento atípico do agronegócio, mesmo com a queda na taxa de câmbio”, destaca Cristina Helena de Mello, professora de economia da ESPM. “Ele não está associado com uma confiança retomada. A formação bruta de capital fixo, que aponta os investimentos em produção, foi menor que no mesmo período do ano anterior, o que pode denotar desconfiança do mercado.”

“O investimento depende do custo de capital e o custo de capital está muito alto”, ressalta ela, lembrando que a taxa básica de juros está em 13,75% ao ano. “O investimento puxa uma cadeia produtiva, aumenta a renda e o consumo das famílias. E esse investimento não está acontecendo.”

Além da meta de inflação, aponta Cristina, o Brasil deveria ter uma meta de nível de juros para controlar a inflação. “Tem que ter controle, mas não a níveis tão altos.”

As expectativas dos economistas do mercado para a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), em 2023, de acordo com o último Boletim Focus, do Banco Central, caiu pela segunda semana consecutiva, passando de 5,80% para 5,71%. A meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, em 2023, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima.

Mesmo com as projeções de IPCA acima da meta, os economistas preveem uma taxa básica de juros, a Selic, em dezembro, de 12,5%. Ou seja, a expectativa é de um corte de 1,25 ponto percentual, ao longo dos próximos meses.

“A expectativa de queda de juros pode criar uma armadilha para as famílias”, alerta Cristina. “Com um crédito mais barato, pode voltar a ser acessível a aquisição de bens como imóveis e automóveis, ou mesmo bens de consumo.”

“Não temos o chamado controle do mecanismo de transmissão de política monetária. Ou seja, os bancos podem optar por aumentar o crédito ao varejo, em detrimento de investimentos estruturados nas cadeias produtivas”, aponta a professora da ESPM. “O crédito consignado é uma das ferramentas utilizadas pelos bancos nesse sentido, porque o risco é muito baixo. No entanto, pode levar as famílias a um endividamento não saudável.”

“Essa facilidade de acesso a crédito pode levar as pessoas a não dimensionar as dificuldades que elas podem enfrentar no futuro”, alerta Cristina.

Investimentos
O indicador de atividade econômica do primeiro trimestre veio ainda fora do contexto da aprovação das novas regras fiscais, podendo gerar mais confiança no mercado. A nova regra prevê o aumento de gastos vinculado ao aumento das receitas. O aquecimento da economia poderá possibilitar esse equilíbrio, a princípio. O que gera mais confiança nos mercados. A expectativa nesse cenário é de queda das taxas dos juros futuros. Isso pode animar o investidor a aumentar sua exposição a ativos de risco, como bolsa.

“A gente caminha para um cenário em que o juro muito provavelmente deve cair significativamente já no segundo semestre”, aponta Magali Bin, sócia e gestora da Fiduc.

“Nesse contexto, temos a possibilidade de maior oferta de crédito pelos bancos, o que em certa medida pode aquecer o mercado imobiliário, com efeitos positivos nos fundos imobiliários.”

A precificação dos bancos está muito ligada à curva de juros de longo prazo, explica Magali. “Com essa perspectiva de melhora da atividade, melhora das receitas do governo e melhora e por consequência melhora da situação fiscal os juros de longo prazo tendem a ceder.”