Com Selic na mínima de 2% ao ano, veja o que fazer com os seus investimentos

29 de outubro de 2020 | Imprensa

Imagem - Fiduc

O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, pela segunda vez, manter a Selic a 2% ao ano, o que reforça a ideia de que o ciclo de corte de juros pode mesmo ter chegado ao fim. A taxa básica de juros serve como referência para várias aplicações, de títulos a fundos de investimento. E, de forma geral, quanto mais ela cai, menos rentabilidade terá a carteira de renda fixa.

Mas não é porque parecem ter cessados os cortes que o investidor poderá respirar aliviado. Pelo contrário, o cenário ficou ainda mais desafiador com juros baixos, sem previsão de alta, aumento no risco e inflação crescente.

A renda fixa está ruim e deve continuar ruim. Talvez seja o momento para se manter conservador na renda fixa, com prazos mais curtos e liquidez. Mas para quem tem renda variável, não muda muito. Uma boa estratégia de renda variável prevê crises como essa. É só o investidor se manter tranquilo”, avalia o consultor financeiro André Massaro.

No que compete aos investimentos, a caixinha da reserva de emergência, dinheiro reservado para gastos inesperados, vai continuar com rentabilidade real negativa, perdendo para inflação. Não tem muito como escapar.

É o preço que se paga pela liquidez tão necessária em momentos urgentes. O investidor terá de amargar essa realidade por um tempo.

No entanto, não abra mão da rentabilidade mínima aceitável de 100% do CDI. Para tentar reduzir danos à sua reserva, uma opção é migrar parte do dinheiro para CDBs de bancos médios e pequenos ou contas digitais com retorno automático, que paguem a partir de 100% do CDI com liquidez diária, que é a possibilidade de resgatar o investimento de imediato. Entenda os prós e contas dessas aplicações.

CDBs e contas de banco digital automático não cobram taxa, mas têm o risco da instituição financeira média quebrar e você levar um tempo até ser remunerado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

Lembrete: O ideal é ter nessa reserva um caixa equivalente a pelo menos seis meses de custos fixos. Se sua estabilidade financeira estiver ameaçada pela crise, faça uma revisão dos gastos e deixe a reserva mais recheada.

Se o objetivo for reserva de emergência, fundos de investimentos do tipo simples podem ser uma opção se forem isentos de taxa de administração. O Tesouro Selic é outra opção. Para investimentos de até R$ 10 mil, não há cobrança de taxa de custódia.

 

Investimentos para reserva de emergência

Produto Retorno, descontando IR, após um ano
CDB que paga 110% do CDI 1,67% ao ano
Fundo simples com taxa zero 1,52% ao ano
CDB que paga 100% do CDI 1,52% ao ano
Conta digital com rendimento automático 1,52% ao ano
Poupança 1,40% ao ano
CDB que paga 90% do CDI 1,37% ao ano
Tesouro Selic com taxa de 0,25% ao ano 1,32% ao ano
Fundo simples com taxa de 0,50% ao ano 1,12% ao ano
LCI/LCA que pega 100% do CDI 1,90% ao ano

Renda fixa

 

Títulos prefixados no Tesouro Direto também estão oferecendo remunerações mais altas com o aumento das preocupações com os gastos do governo. É o chamado “prêmio de risco”. Mas o investidor precisa deixar o dinheiro preso até o final do prazo de investimento se quiser ter o retorno combinado.

Segundo Massaro, os sinais de freios de cortes em próximas reuniões do Copom podem significar que sofra alguma alteração, como um leve aumento no médio prazo. Esse movimento prejudica o investidor que pode precisar resgatar os títulos antes do vencimento.

Nesse caso, os títulos prefixados são aqueles que mais oferecem risco, sobretudo os mais longos. Com o aumento da taxa, eles podem perder valor se sacados antes do vencimento.

O outro problema com esses títulos é que eles também podem ser corroídos pela inflação, principalmente os de médio e longo prazo.

Eu diria para o investidor ficar longe de títulos prefixados de longo prazo. Já os títulos atrelados à inflação IPCA, se não forem tão longos, podem pelo menos manter o investidor protegido da perda de poder de compra“, afirma o consultor.

Ainda na renda fixa, o investidor terá de buscar também – e até dar preferência quando possível – títulos que não descontam imposto de renda e foram inflados ultimamente, como as letras de crédito imobiliário (LCI) e do agronegócio (LCA), que já remuneram 100% do CDI, inclusive com liquidez diária.

Se o objetivo não for reserva de emergência, o investidor pode buscar títulos com prazo mais longo nesses pós-fixados atrelados ao CDI. Já é possível encontrar LCI com retorno de 110% do CDI em um ano

As debêntures incentivadas, também isentas de imposto de renda, oferecem taxas ainda mais atrativas de até 5% mais IPCA. Entretanto, elas podem ser difíceis de escolher, assim como os títulos privados de uma maneira geral, que exigem algum tipo de conhecimento sobre a empresa e seus negócios para entender qual o real risco de calote.

Por isso, é recomendável investir nesses títulos por meio de fundos de crédito privado, assim, o investidor conta com um gestor para elaborar a lista de ativos privados e ainda deixa o portfólio mais diversificado e com mais potencial de rentabilidade.

Dólar e investimento no exterior

 

Para a economista da Toro Investimentos, Paloma Brum, o cenário é bastante crítico, com risco fiscal crescente, aumento do endividamento público, instabilidade política e insegurança jurídica no Brasil. Tudo isso torna o país menos atraente para investidores e aumenta o risco de aplicar por aqui.

Com a soma desses fatores, a especialista entende que pode haver espaço para pressão cambial, fazendo com que o real se desvalorize ainda mais.

No curto prazo, não deve haver um aumento da Selic. O Banco Central interpreta que o aumento na inflação, pressionado pela alta dos alimentos, deve ser passageiro. Aumentar a taxa agora, só deixaria a dívida pública mais cara e poderia ameaçar a já frágil economia brasileira.

A manutenção da taxa de juros em baixa também contribui para a saída de investimentos estrangeiros do Brasil, o que deixaria o dólar ainda mais escasso, portanto, mais caro.

Há ainda outro fator. Após a pandemia, a economia americana tende a se recuperar mais rápido, por ser mais forte e dinâmica que a brasileira, pontua Brum.

Moeda forte é sempre bom ter na carteira, como euro, dólar, libra. É um cenário de economia doméstica muito amarrada e ainda depende da agenda de reformas, então corremos um risco de ter um real mais desvalorizado”, avalia.

Brum defende que o investimento em dólar seja feito aos poucos, para que o investidor consiga fazer uma média da cotação e não correr o risco de aplicar tudo num dia em que ela esteja muito alta.

Entre as maneiras de se expor ao dólar, a economista recomenda, para os iniciantes, que procurem fundos de investimento com gestores profissionais, que possam fazer a seleção e monitoramento dos ativos. Há ainda a opção de investir no ETF, fundo que segue o índice da bolsa americana S&P 500, concentrando as maiores empresas de capital aberto no país.

Outra alternativa seria investir em BDRs (Brazilian Deposit Receipt, na sigla em inglês), que são papéis que representam ações de empresas listadas em bolsas no exterior. As grandes empresas de tecnologia estão entre as que podem trazer altas. Elas têm resistido bem à pandemia e mesmo que haja uma queda do dólar, a valorização das ações poderia reduzir o impacto no investimento.

Segundo Brum, o investidor também pode se expor de forma indireta ao dólar e, de quebra, tentar escapar dos riscos de depender de uma melhora no ambiente nacional para garantir ganhos.

Neste caso, a aposta seria em ações (ou fundos de ações) de empresas de exportação como mineração, siderurgia, frigoríficos e celulose, que dependem da demanda externa e ganham com a alta do dólar.

Diversificar de modo eficiente

 

Para o planejador financeiro da Fiduc, Valter Police, mais do que nunca o investidor brasileiro precisa de uma carteira bastante diversificada, com todo tipo de ativos, do dólar ao título público, ouro, ações estrangeiras e nacionais.

Uma maneira de fazer isso, principalmente pra quem tem poucos recursos, é investir em fundos de fundos, defende Police. É uma forma de contar com uma equipe profissional para escolher os ativos para cada investidor.

“A dificuldade vai ser escolher o fundo. Os fundos de fundos são uma nova tendência, porque tiram a complexidade de milhares de ativos e consegue diversificar com uma equipe de gestão montando um fundo com muitas coisas bem escolhidas”, afirma.

Ele argumenta ainda que o brasileiro precisa se acostumar com a volatilidade e entender que quanto mais diversificada a carteira, menor o risco de ele perder tudo.

“Se você coloca o dinheiro em várias ações, não existe risco de você perder tudo e ficar com zero. Só se todas as empresas falirem ao mesmo tempo. É muito improvável. Mas o brasileiro não foi ensinado sobre risco e teme a volatilidade”, diz.

Texto por: Isabel Filgueiras e Júlia Lewgoy, Valor Investe