Bitcoin: mico ou chance de ouro?

8 de fevereiro de 2018 | Imprensa

Imagem - Fiduc

Estamos diante de um enorme “golpe” ou de uma oportunidade de investimento imperdível? Provavelmente nenhuma dessas opções é a uma boa resposta

As criptomoedas são uma das maiores novidades do mercado financeiro mundial e, com toda a certeza, tem a capacidade de potencializar de forma expressiva o processo de disrupção na maneira como temos trocado valores nos últimos séculos. A maior expoente desse fenômeno é a Bitcoin, mas existem centenas de outras, como a Ethereum e a Monero, apenas para citar algumas, cada uma com suas próprias características e usos.

A criação e uso de moedas virtuais está baseado na tecnologia blockchain, que pode ser considerada um “protocolo de confiança descentralizado”. Trocando em miúdos, significa que intermediários são desnecessários e que o registro das transações não pode ser alterado. Em termos práticos, você pode confiar na outra pessoa com quem está fazendo negócios sem precisar de um terceiro para atestar qualquer detalhe da operação.

Quando um investidor compra ou vende ações, por exemplo, a transação deve ser confirmada pela bolsa de valores, correto? Quando há a compra ou venda de um imóvel, o cartório de registro de imóveis também precisa atestar o negócio, certo? Até mesmo quando uma conta de água, gás ou energia elétrica é paga, seja por meio do internet banking ou diretamente em uma agência bancária, a instituição financeira deve informar ao prestador do serviço que você dispunha dos recursos para realizar a operação e que o débito foi quitado, não é mesmo?

Agora, sem a necessidade de intermediários para atestar uma transação, todos esses atores – cartórios, administradoras de cartões de crédito, bancos, bolsas de valores, entre outros – deverão ser fortemente impactados em um futuro não muito longínquo e, com toda a certeza, precisarão se reinventar e reavaliar os seus papeis se quiserem continuar relevantes no mercado ou, para ser mais radical, caso queiram continuar existindo.

Além de assegurar que as operações sejam realizadas no ambiente da internet sem qualquer intermediário, as criptomoedas permitem que a concretização de um negócio seja efetivada de e para qualquer lugar do mundo sem nenhuma barreira ou tributação. Os benefícios são gigantescos, pois as criptomoedas facilitam e dão mais agilidade ao dia a dia das pessoas, além de torna-las cada vez menos dependentes de governos, instituições financeiras e empresas dos mais diversos segmentos.

Essa revolução já começou, mas, como ocorre sempre que surgem novidades, há alguns aspectos que devem observados. Ao menos teoricamente, as operações com criptomoedas propiciam anonimato e não conhecem fronteiras, características bastante valorizadas por criminosos envolvidos com lavagem de dinheiro e tráfico de drogas, entre muitos outros delitos. Outro ponto é que, sem um intermediário, como os governos farão para medir e cobrar impostos ou evitar a entrada e saída ilegal de recursos de um país?

É natural, portanto, que diversos governos estejam trabalhando para implantar medidas com o objetivo de colocar alguma ordem nesse segmento, algo que representa, muito provavelmente, um risco regulatório para quem tem e usa criptomoedas. Há quem afirme que as criptomoedas nem sequer são moedas, mas sim ativos comoditizados e sem valor intrínseco. Os defensores dessa tese argumentam que a expressiva valorização acumulada, principalmente no ano passado é uma bolha especulativa sem qualquer lastro e as quedas desse ano são o início do estouro dessa bolha.

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A alta acumulada realmente chama a atenção. Em pouco mais de um ano, a cotação da bitcoin superou a marca de 1.500% e ela continuou subindo, mesmo após uma forte correção no final de 2017. Esse movimento fez e ainda faz com que que muitas pessoas se mostrassem dispostas a alocar parte de seus investimentos na criptomoeda, em busca de um ganho fácil. As bruscas quedas recentes trouxeram medo aos que se arriscaram na novidade, mas a dúvida permanece:  Bolha ou oportunidade?

E é exatamente neste contexto que surge um questionamento pertinente: será que a valorização é sustentável? Na verdade, para um ativo sem valor intrínseco (como uma ação, que paga dividendos ou um título, que paga juros), o valor só existe pela vontade das outras pessoas de comprarem também. Assim, quando se compra uma bitcoin, tem-se a esperança de que outra pessoa queira comprar depois e por um preço maior. Isso será verdade? Enquanto as pessoas acharem que sim, funciona.

Mas acredito (na verdade, tenho certeza) que em algum momento, que talvez tenha se iniciado nessas últimas semanas, as pessoas não acharão que vale o preço e irão parar de comprar. O efeito é que quem as tiver em mãos verá seu valor derreter até retornar a um patamar em que novos investidores considerem sua aquisição e, mais uma vez, o ciclo de altas e baixas seguirá em frente.

Esse talvez seja o maior perigo para as criptomoedas. A excessiva volatilidade, mesmo que positiva para investidores, cria uma série de problemas. As moedas, como as conhecemos há muitos séculos, possuem três características principais: ser um meio de troca, um denominador de valor e uma reserva de riqueza. As duas primeiras expressam o jeito como utilizamos o dinheiro todos os dias, comparando os preços e trocando coisas por moedas. A última também é verdadeira, porque ela guarda o valor, mas a inflação, que corrói o poder de compra, reduz a eficiência dessa característica.

Se compararmos as três características da nossa moeda com as criptomoedas veremos que elas funcionam de forma diferente. Como meio de troca, por exemplo, ainda é difícil fazer pagamentos em criptomoedas porque são poucos os lugares que as aceitam, além das transações serem demoradas e terem altas taxas de serviço, embora a tendência é que isso mude no futuro.

Como denominador de valor, não é nada eficiente devido à enorme oscilação que elas apresentam. E como o valor varia demais, é muito difícil fazer uma transação acertando o que ambas as partes consideram como preço justo. Isso afasta a criptomoeda do uso cotidiano.

Como reserva de riqueza, no entanto, tem sido fora do normal, dada a quase inacreditável valorização (acumulada até agora). Claro que isso pode mudar rapidamente, como temos visto, também devido à enorme volatilidade e aí essa característica se perderá.

Assim, o que em princípio parece uma qualidade da criptomeda – seu enorme potencial de valorização – é, na verdade, um entrave à sua disseminação na sociedade. Indubitavelmente, os valores que vemos hoje, especialmente na bitcoin, estão sendo e serão fortemente ajustados, como ocorre em qualquer ativo que tenha esse comportamento de valorização exacerbado. Esse “tombo” deverá fazer muita gente perder dinheiro e muitos se decepcionarão com as criptomoedas, saindo desse mercado com a sensação de que foram enganados em algum tipo de “golpe”. Penso, no entanto, que esse poderá ser o começo da verdadeira revolução. Com a redução da especulação e o aumento do uso nas funções efetivamente monetárias (meio de troca, denominador de valor e reserva de riqueza), elas poderão realmente transformar fundamentalmente o mundo financeiro em que vivemos – para melhor.