Para muitos brasileiros, financiamento é o caminho para tornar realidade o sonho de ter um automóvel, seja ele usado ou zero-quilômetro.
Porém, assumir uma dívida, que geralmente vai levar anos para ser quitada, é algo que exige muita reflexão e planejamento prévios.
“Ter o olho maior do que a barriga”, como dizem, pode fazer o sonho virar pesadelo e comprometer as finanças a ponto de faltar dinheiro para despesas básicas de subsistência, como alimentação, aluguel e contas de luz, água e telefone.
Em um cenário catastrófico como esse, o final da história é previsível: o comprador perde o carro para o banco, por atraso nas prestações, ou é obrigado a vendê-lo para pagar ao menos parte das dívidas.
Comprar por impulso, sem pensar no amanhã, é um erro comum que pode cobrar seu preço lá adiante.
Para evitar problemas e fazer uma compra consciente, consultamos Valter Police, diretor da Academia da Fiduc, empresa de gestão de investimentos com controle de finanças pessoais.
A pedido de UOL Carros, ele aponta sete “pecados” que são comuns e você deve evitar antes de fechar negócio em uma compra de veículo financiada.
1 – Comprar sem necessidade
De acordo com o especialista, esse é um “pecado” comum, não apenas na aquisição de veículos, mas de quase tudo o se compra a prazo.
“A parte emocional de nossa mente nos impele a buscar desculpas que justifiquem racionalmente nossas escolhas. Porém, quando refletimos profundamente, conseguimos perceber uma clara diferença entre ‘querer” e ‘precisar’”, pontua o especialista.
2 – Escolher veículo caro demais
Adquirir um veículo mais caro e equipado é uma tentação à qual muitos não resistem – apesar de não precisarem ou não terem condições de arcar com esse custo.
“Vale a pena refletir se o preço do automóvel pretendido é o adequado para o momento atual da aquisição, considerando a situação das finanças daquela família, seja em termos de patrimônio, seja de orçamento”, recomenda Police.
De acordo com ele, as emoções nos fazem buscar “confortos e luxos”, mas essas justificativas nem sempre combinam com a realidade.
“Pare e pense de cabeça fria. As respostas ficarão claras”.
3 – Confundir carro com investimento
Carro até foi usado como investimento nos tempos de hiperinflação, mas isso ficou no passado. Comprar um veículo não é investimento e pensar dessa forma faz com que o patrimônio decresça em vez de se multiplicar, alerta o especialista em finanças pessoais.
“Essa é uma herança de uma época na qual tínhamos no Brasil hiperinflação e escassez de produtos. Assim, havia ágio para a compra de carros novos e o preço dos carros usados subia fortemente, levando muitas pessoas a usarem a aquisição de veículos como investimentos alternativos”, contextualiza.
Police destaca que essa época já passou faz tempo. “Hoje, ao se comprar um carro novo, a queda de valor do bem gira em torno de 20% apenas no primeiro ano, chegando à metade do valor em cinco anos. Esses números variam de acordo com o modelo e conservação do automóvel, mas a ordem de grandeza permanece”.
4 – Considerar apenas o custo da parcela
O custo verdadeiro de um financiamento não está na parcela, mas na taxa de juros e nos demais custos, ensina Valter Police.
“Um erro comum quando se usa crédito é pensar apenas no valor da parcela e se ela cabe no bolso. O verdadeiro custo da operação é definido pela taxa de juros somada aos demais custos, compondo o CET (Custo Efetivo Total).
5 – Acreditar em ‘taxa zero’
Não existe crédito sem custo, lembra Police. Ele recomenda simular a compra à vista para constatar que que o preço a ser pago é diferente na comparação com a somatória de todas as parcelas.
“Isso demonstra que a taxa não é zero. Essa é uma das formas que as equipes de marketing utilizam para distrair a atenção do consumidor”.
Na prática, o financiamento com ‘taxa zero’ cobra um preço maior do que em outras formas de pagamento ou não oferece alguns benefícios, como pagamento do IPVA e de revisões programadas.
“Se o preço final do veículo financiado é maior, a taxa não é zero. Pode acreditar, nunca é”.
6 – Não pesquisar preços
Pesquisa é fundamental, não apenas das opções dos veículos e dos respectivos preços, como também das diversas opções para parcelamento disponibilizadas, como leasing e financiamento – aponta o planejador financeiro pessoal.
Ele lembra que, além das alternativas mencionadas acima, existe hoje mais uma opção, que é a de “carro por assinatura”.
“Nessa modalidade, o cliente ‘assina’ o plano por um ou dois anos e boa parte dos custos, como IPVA, seguro e manutenção, já estão incluídos. Isso facilita os cálculos e também reduz o gasto de tempo e dinheiro com esses itens”.
7 – Ignorar que carro gera outras despesas
Muita gente faz as contas considerando somente a parcela do carro, esquecendo que existem muitos outros custos atrelados, como IPVA, seguro, combustível e manutenção.
É comum também não levar em conta que o dinheiro a ser gasto na aquisição poderia ser investido para render. É o chamado “custo de oportunidade do dinheiro”.
“Também existe a depreciação do veículo, que faz com que ele perca valor, ou seja, seu patrimônio diminui. Considerando apenas IPVA, seguro, depreciação e custo de oportunidade, o custo adicional pode chegar a mais de 25% do valor do veículo em um ano. É muita coisa. Pense em todos esses aspectos antes da aquisição”.