A crise econômica decorrente da proliferação do Coronavírus pelo mundo tem assustado milhões de famílias, que terão, de uma forma ou de outra, seus meios de sustento afetados pelas medidas de prevenção impostas pelos governos ao redor do mundo. Acompanhando esta situação, os índices do mercado financeiro estão de mal a pior, fazendo com que o saldo de investimentos de quase todos esteja reduzindo drasticamente.
Neste momento, é necessário que as pessoas tenham maior consciência sobre seus gastos, assim como que não tomem decisões precipitadas e que certamente impactarão de forma negativa sobre seus patrimônios pessoais.
Justamente por isso, o planejador financeiro CFP® Valter Police, sócio da Fiduc, responde algumas perguntas sobre qual deve ser o comportamento adequado de todos em relação às finanças pessoais neste momento tão delicado.
Não sabemos ainda o real impacto desta crise nem quando ela vai acabar. Qual é a conduta adequada neste momento em relação às finanças pessoais? Posso continuar comprando normalmente ou é melhor segurar o consumo e os gastos?
Se sua renda não é fixa, provavelmente ela diminuirá no curto prazo. É importante que você faça um exercício de tentar reduzir também suas despesas. Desta forma, o impacto no “saldo” mensal de suas receitas e despesas é minimizado. Um ponto interessante é que as pessoas têm estocado materiais e aí talvez tenhamos em alguns casos um exagero que apresenta duas decorrências desagradáveis: 1) excesso de recursos alocados em itens que talvez demorem a ser usados / 2) desabastecimento de itens para o restante da população, o que pode causar um problema social.
Tenho investimentos em ações e outros ativos. Eles estão caindo vertiginosamente. O que faço? Devo Sacar?
Sacar é a pior opção possível. Ao sacar você realiza o prejuízo. Vamos traçar um paralelo com os imóveis. Você compra um imóvel para investimento pensando no longo prazo por R﹩500 mil em um condomínio muito grande. Um tempo depois, a taxa de ocupação cai, mas não há nada que indique que isso deva se manter ao longo do tempo – é sazonal. No entanto, alguns de seus vizinhos precisam de dinheiro e colocam os imóveis para vender, com pressa. Por causa disso, eles vendem por valores bem menores – 400/300/200 mil. Você sabe que o imóvel continua tão bem localizado quanto antes e com o mesmo potencial de retorno. Você entra em desespero e vende como eles por um preço muito abaixo do valor, só porque eles venderam ou percebe que esse não é o momento para pensar nisso, até porque você não estava pensando em vender antes desse movimento? O raciocínio é o mesmo. O mercado irá se recuperar como sempre fez antes. Ninguém sabe se irá demorar 2 meses ou 2 anos, mas as empresas continuarão existindo, produzindo e gerando lucro, o que irá se refletir no preço de suas ações. Em momentos de crise, não tomar decisões de impacto é uma boa sugestão.
O trabalhador autônomo deve se comportar de maneira diferente?
A variação da renda, nesse caso, costuma ser ainda maior. É importante conter os custos e, quando necessário, fazer uso da reserva de segurança – aquele colchão financeiro que se sugere seja o primeiro investimento de qualquer pessoa e que deve suprir os custos pessoais ou familiares por alguns meses. É exatamente para isso que ele serve e, assim, evita que você tenha que tomar crédito, o que poderia ser o começo de um problema maior, com efeito de uma bola de neve. Buscar rendas alternativas também é uma boa opção, requerendo a criatividade e o esforço de cada um
Os bancos anunciaram a suspensão da cobrança de dívidas com eles por dois meses. Devo aproveitar a oportunidade ou é melhor manter o pagamento?
O anúncio foi da cobrança, mas não da isenção dos juros. Assim, se puder manter os pagamentos, é melhor. Para isso, analise seu fluxo de caixa para os próximos meses e tente usar as medidas sobre as quais falamos acima
Existe alguma maneira de proteger meu patrimônio em meio a este caos, como comprar dólar ou ouro?
Não adianta colocar um cadeado depois que a porta foi aberta. A correta criação de uma carteira de investimentos deve ser feita com base nos objetivos e perfil do investidor. Uma carteira bem diversificada irá passar por turbulências, mas de forma mais suave do que aqueles investidores que concentram muito em um tipo de investimento, em especial aqueles “da moda”. Em momentos de crise, o ideal é que não se altere o perfil da carteira, mantendo-se a alocação de ativos (asset allocation) de acordo com o previsto anteriormente. Buscar investimentos como ouro ou dólar apenas por causa da crise tem a mesma chance de serem rentáveis ou não porque o mercado pode virar a qualquer momento. Uma carteira deve SEMPRE ser bem balanceada.