Na quarta-feira (16), a taxa básica de juros, a Selic, voltou a subir, indo a 4,25%, a maior desde janeiro de 2020. É a arma do Banco Central para combater a alta dos preços. Afinal, a inflação acelerou o passo em maio, subindo 0,83%, com acumulado de 8,06% em 12 meses, de acordo com o IPCA, indicador oficial do governo. Desde setembro de 2016 que o brasileiro não via uma variação de preços tão grande.
Essa alta da inflação atinge o bolso do brasileiro à cada ida ao supermercado, enquanto os juros mais salgados encarecem o crediário e as parcelas de quem precisa tomar dinheiro emprestado. Por isso é preciso proteger o orçamento neste momento.
Por que a inflação está subindo?
Dólar alto: Segundo economistas, a inflação começou a ser criada pelo dólar. A moeda americana passou a recuar em março, mas ainda está muito acima dos níveis registrados antes da pandemia, quando valia ao redor de R$ 4. Isso encareceu produtos importados, que são cotados em moeda estrangeira, como matérias-primas e alimentos.
Gargalos na indústria: A pandemia provocou um abre e fecha da economia, atrapalhando o planejamento da indústria na hora de encomendar matérias-primas, por exemplo. A retomada do consumo está sendo mais veloz que a capacidade das empresas para repor estoques, e isso que abre espaço para reajustes.
Por que os juros estão subindo?
Controlar inflação: Aumentar juros é o principal instrumento que o Banco Central tem para controlar a inflação. Sempre que os juros sobem, o custo do dinheiro aumenta no crediário e nos empréstimos, desestimulando o consumo. Com menor consumo, as empresas ficam com menos folga para reajustar preços.
Atrair dólares: Juros mais altos também atraem dólares de investidores estrangeiros interessados em ganhar no Brasil com as aplicações em renda fixa. Essa maior oferta de moeda americana entrando ajuda a reduzir preços de importados e matérias-primas.
Inflação mais forte para famílias de menor renda
Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), essa inflação provocada principalmente por itens essenciais, como alimentos, está sendo mais cruel com as famílias de menor poder aquisitivo. A alta de preços acumulada em 12 meses até maio é de 8,91% para as famílias com renda domiciliar inferior a R$ 1.650,50, mas de 6,33% para as famílias que recebem mais de R$ 16.509,66.
Isso só aumenta o desafio de cortar gastos para uma família que precisa rever o orçamento básico. A saída é investigar alguns vícios que podem ser revistos sem afetar tanto a qualidade de vida no lar.
A inflação está fora do nosso controle. Os preços estão subindo independentemente de nossa vontade e ação. O que está na nossa mão é uma mudança de comportamento. É fundamental sair do automático e buscar formas de ajustar o orçamento à inflação. O primeiro erro que pode ser cometido no planejamento familiar é não reconhecer esse problema em família, porque as pessoas vão se comportando como se nada estivesse acontecendo, até a situação ficar ainda mais grave.
Jhon Wine, educador financeiro da Dsop e vice-presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros
Evite esses 5 erros para proteger seu orçamento
Veja abaixo cinco gastos que podem ser revistos para preservar o planejamento financeiro da família, pelo menos até a inflação desacelerar.
- 1. Pequenos gastos diários: As famílias que fazem orçamentos dão atenção aos grandes gastos fixos do lar -como aluguel ou financiamento imobiliário, condomínio, plano de saúde, mensalidade escolar, luz, Internet, supermercado semanal. Mas costumam ignorar completamente aqueles gastos diários por serem de baixo valor. O cafezinho e sobremesa depois do almoço, o salgado com suco no meio da tarde, a pipoca ou sorvete na volta para casa, o doce mais caro pedido pela criança. Além de tudo isso também estar ficando mais caro, são exemplos de despesas que, no acumulado do mês corroem uma parte do orçamento.
- 2. Desperdício de alimentos e energia: As famílias gastam mais do que precisam muitas vezes simplesmente porque compram uma quantidade de alimentos acima do necessário e, por isso, acabam jogando no lixo as sobras. Na hora de orçamento apertado, é melhor comprar menos que o necessário do que jogar fora sobras de frutas, verduras, arroz e feijão. Em tempos de energia elétrica mais cara, deixar luzes acesas, não fechar a porta da geladeira e continuar com banhos demorados são outros ralos por onde escoa o dinheiro do orçamento.
- 3. Fidelidade a produtos e supermercados: Continuar comprando os mesmos produtos por fidelidade à marca, comodidade ou preguiça de pesquisar é, em tempos de crise, um pecado que machuca ainda mais o orçamento familiar. Quando um produto subir muito de preço, o certo é trocá-lo por algo similar, que possa atender à necessidade por um tempo, pelo menos até que os preços voltem à normalidade. A dica do planejador financeiro é dar mais importância à função do produto do que à marca. O mesmo vale para o mercado em que as compras são feitas. Evite seguir fazendo despesas grandes no mesmo lugar, sem pesquisar opções mais baratas.
- 4. Despesas automáticas: Um pecado que corrói o orçamento de maneira silenciosa é o hábito de automatizar despesas, normalmente por meio de assinaturas de serviços de streaming. Nos últimos anos surgiram várias novas plataformas de filmes, séries e de esportes. Muitas famílias aderiram às novidades, mas sem abrir mão das outras faturas que já estavam usando, como a da TV por assinatura e Internet ou de música. A questão é: precisa mesmo de tudo isso?
Com o aumento de preços, muitas despesas aumentam, e essa parte fixa cada vez maior vai se tornando mais difícil de cortar. O melhor hábito é rever o orçamento mensalmente e cortar os desperdícios para fazer frente à alta de algumas despesas essenciais para não cair no uso do crédito.
Valter Police, planejador financeiro e sócio da Fiduc
- 5. Cartão de crédito para completar renda: Usar crédito para manter o padrão de vida que ficou mais caro e parou de caber no orçamento mensal é um dos maiores e mais comuns erros. Ao recorrer ao crédito -cartão, cheque especial ou empréstimo pessoal-, as pessoas passam a ter uma nova despesa, que são os juros. Em algum tempo, surge uma bola de neve de endividamento, que logo será insustentável.
Antes mesmo de a taxa básica de juros começar a subir, os bancos já se antecipam e começam a elevar os juros cobrados dos clientes porque projetam os juros no futuro. Aumentar o consumo por meio de dívida já é um erro de planejamento financeiro, mas nesse momento, essa decisão é ainda mais perigosa. Para quem já tem dívida, outro erro é deixar de incluir os juros como parte dos gastos que precisam caber no orçamento.
Paulo Sergio Ribeiro, planejador financeiro da Planejar
Conteúdo por: UOL Economia