Foi dada a largada. Começam hoje (22) as negociações de BDRs (Brazilian Depositary Receipts, ou recibos de ações de empresas estrangeiras) e ETFs (fundos de índices) internacionais listados na bolsa brasileira para pequenos investidores.
Estão disponíveis 671 BDRs na bolsa hoje, enquanto o número de empresas brasileiras com ações listadas somaram apenas 401, conforme relatório da B3 com dados até setembro. É muita opção nova e é natural que os investidores fiquem empolgados e tentados a sair comprando ativos de empresas com as quais eles sempre sonharam, como as gigantes de tecnologia dos Estados Unidos.
De acordo com Felipe Romcy Araújo, sócio-fundador e assessor de investimentos do Grupo Aplix, a exposição a uma única empresa não deve ultrapassar 1% do patrimônio, mesmo nas teses mais convictas de investimento.
“Um BDR da Amazon, por exemplo, custa mais de R$ 8 mil. Para um pequeno investidor que tenha R$ 100 mil ou R$ 200 mil em investimentos é muita exposição em uma empresa só”, observa Araújo.
Assim, ele acredita que a estratégia de diversificar a carteira em empresas “gringas” pode ser mais eficiente por meio de ETFs e outros tipos de fundos que conseguem expor a sua carteira a um número maior de empresas estrangeiras com um aporte menor.
O BDR mais negociado na bolsa brasileira neste ano é da Apple e custava R$ 65,86 no fechamento de ontem (21), enquanto há fundos com exposição dos BDRs com aplicação mínima de R$ 100 nas plataformas de investimentos.
Contudo, Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, avalia que o preço dos BDRs não é mais um empecilho para o pequeno investidor após a B3 ter reduzido, desde 28 de setembro, o tamanho do lote-padrão para negociação de BDRs e ETFs de renda variável.
Nos segmentos de BDR Não Patrocinado (quando a empresa não tem vínculo com a emissão daquele ativo) Nível I, ETF de renda variável e opções sobre ETF de renda variável, o lote-padrão passou de 10 unidades para 1 unidade. No caso do BDR Patrocinado Nível II ou III, passou de 100 unidades para 1 unidade.
Embora seja possível comprar apenas um BDR por vez, Valter Police, planejador financeiro da Fiduc, avalia que existe a dificuldade de diversificação com menos dinheiro e experiência. Esse é, aliás, um dos principais problemas que o investidor que optar por escolher ele mesmo cada BDR de sua carteira enfrentará, segundo Valter Police, planejador financeiro da Fiduc. Assim, a grande vantagem desse tipo de papel, a diversificação pode se virar contra um investidor com pouca experiência.
“Fazer uma diversificação apropriada é muito complexo, envolve uma série de fatores e ele não vai conseguir aproveitar a primeira regra do bom investidor, que é ‘tenha uma carteira diversificada”, diz Police.
A outra desvantagem apontada por Police está na falta de conhecimentos técnicos necessários para o investidor fazer as melhores escolhas sobre os ativos que vai colocar na carteira, os melhores momentos de comprar ou vender determinados ativos, além dos aspectos emocionais que podem influenciar o investidor.
“Tudo isso pode ser substituído pela contratação de um gestor profissional, como os gestores de fundos de investimentos”, diz o planejador financeiro, destacando que a única motivação de um gestor está no crescimento do valor patrimonial do fundo.
Para Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora, ambos os caminhos podem ser benéficos para o investidor, a depender do objetivo que ele tem com esses investimentos. Comprar os BDRs diretamente é uma boa opção para o investidor que pretende realizar, por exemplo, operações de curto prazo, uma vez que ele terá que selecionar os ativos pela liquidez – ou seja, pela quantidade de negociação do dia a dia.
Para o médio e longo prazo, Indech avalia que ambas as opções são positivas (investir em BDRs sozinho ou via fundo). O investidor que compra ativos diretamente do mercado geralmente quer aprender mais, entender a dinâmica e buscar performance melhor à médio e longo prazo. Para isso, é preciso ter tempo e disponibilidade para fazer leitura de balanço, segundo o estrategista.
“Quem quer ir para fundos é quem quer participar desse mercado, mas não tem tempo ou disponibilidade, até mesmo interesse em aprender mais sobre esse mercado, mas quer participar dele, de ativos investidos no exterior”, diz Indech.
Villegas avalia que o investimento direto em BDR atende ao investidor que gosta de ser sócio de uma empresa e quer participar de todo processo de evolução daquela companhia. “Você vai atrás das informações e se sente confortável, se sente confiante, e toma aquela decisão”, diz.
Já os ETFs internacionais e fundos que investem em BDRs atendem as necessidades e expectativas do investidor que quer se expor a uma classe de ativos, e não necessariamente a um papel específico. Segundo Villegas, isso aumenta a chance de uma melhor performance no longo prazo.
“A escolha entre investir diretamente em BDRs ou via fundos e ETFs está mais ligada à confiança do investidor. De que maneira ele se sente mais confiante na tomada de decisão: sendo ativo e responsável pelas suas escolhas ou buscando algo mais passivo, em uma exposição mais diversificada, mas ao mesmo tempo ele abre mão de retornos maiores no longo prazo”, avalia o estrategista da Genial.
Se você ainda não descobriu que tipo de investidor é você: de “caçar BDR na unha” ou terceirizar para profissionais, não tem problema. A negociação de BDRs para pequenos investidores abre hoje, mas continua amanhã e nos próximos pregões. Tem mercado todo dia (útil).
Fonte: Weruska Goeking, com colaboração de Júlia Lewgoy, do Valor Investe.